Paolla Oliveira: ‘Vivemos em uma sociedade em que se não me posicionar, não vou existir. E eu quero existir’

Paolla Oliveira fez sua primeira capa, justamente para Quem, ainda na versão impressa, em 2006. Quase duas décadas depois, a atriz não é mais a mesma – e nem poderia. Muitas das mudanças vieram com o tempo e a maturidade, outras em um trabalhoso e libertador processo de autoconhecimento e aceitação. Elevada a símbolo sexual desde o início da carreira, era também criticada pelo mesmo corpo objetificado como “mulher gostosa”, em um ciclo que começou a ter fim após uma crise recente. “Tive que ter coragem para falar ‘me deixem como eu sou, do jeito eu sou’”, lembra.

Ariana, Paolla completa 42 anos logo depois da estreia de Justiça 2, série antológica que chega ao Globoplay em 11 de abril. Ela é Jordana, uma psicopata que se envolve com Milena (Nanda Costa), uma mulher que cumpre pena por um crime cometido pela empresária. Destaque tem sido dado às cenas de sexo entre as duas, o que para a atriz é um enfoque mais que ultrapassado.

“É o tipo de coisa que não era mais para ser [notícia]. Aí que vemos que ainda temos que falar sobre alguns assuntos, bater na mesma tecla sobre o corpo da mulher, sobre esse interesse que as pessoas têm pelo lado preconceituoso em gênero, em relações homoafetivas”, explica, apontando que não é a primeira vez que isso acontece. “Já tive outros personagens complexos que também levaram para um lado muito mais banal”, diz.

Paolla abandonou filtros e edições de fotos e, nas redes, passou a ignorar os comentários ofensivos à sua aparência – com a qual fez as pazes recentemente. “Eu cheguei ao ponto de falar que tinha defeito (…) As coxas, o cabelo, o pé”, lista ela, que já usou roupa larga para parecer mais longilínea, fez dietas drásticas, e tentou ser outra. “Quando você não se gosta, a primeira coisa que você quer é mudar”, assume.

A tomada de consciência veio inspirada em outras mulheres – muitas ela conheceu via redes. Ao letramento se juntou uma jornada interna para ser quem queria. “Eu tinha tudo para ficar sentada em cima do meu próprio rabo e falar ‘eu não posso reclamar’. Mas eu posso reclamar, sim”, frisa. “A gente sempre tem espaço para se mover dentro da nossa própria vida. Ficar acomodada infeliz é que não pode”, avalia.

A mudança não foi aceita por todos. Alguns deixaram a convivência com Paolla, chamada de prepotente e arrogante. Outros chegaram para ficar, como Diogo Nogueira, de 42, com quem ela vive na casa do Rio onde conversou com Quem. Ela conta que o sambista não é “homenzinho alfa” e deu à atriz espaço para manter sua individualidade. “Para dar certo, são duas pessoas, duas personalidades, duas vidas. Não somos um só”, avisa.

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