Marcos Caruso, 72 anos de idade, se despede da novela Elas por Elas, trama em que deu vida ao vilão Sérgio, pai de Helena (Isabel Teixeira) e terá o último capítulo exibido em 12 de abril. Desmascarado na reta final da história, o ardiloso empresário foi o responsável pela misteriosa morte de Bruno (Luan Argollo).
Além disso, também foi exposta a relação dele com Adriana (Thalita Carauta), que passou anos escondendo que ele era o pai de Isis (Rayssa Bratillieri). “Já interpretei o pai carinhoso, o avô que dá conselhos ou até o marido banana (risos). Agora, finalmente, o vilão. O Sérgio é um papel diferente do que já fiz. Ele é um cara rico. Fiz poucos personagens ricos — já fiz falidos, mas rico, não. Ele tem um caráter duvidoso e guarda segredos”, afirma.
Ao fazer um balanço do personagem, Caruso considera o exercício de composição positivo: “Ele desencadeia e sofre a ação. Isso foi o mais interessante para mim: ter em mãos um personagem que desencadeia a ação. Vinha fazendo muitos personagens úteis à ação porque os personagens que desencadeiam a ação são geralmente os protagonistas ou antagonistas.”
Com experiência como dramaturgo — ele é autor de um dos maiores sucessos teatrais brasileiros, a comédia Trair e Coçar é só Começar, e da novela A História de Ana Raio e Zé Trovão (Manchete, 1990) –, Caruso entende como é construída a estrutura narrativa entre protagonistas e coadjuvantes. “Fiz muitos personagens úteis, mas o Sérgio é um personagem que desencadeia e sofre a ação sem ser o protagonista”, afirma o ator, que soma 50 anos de carreira.
REMAKE
Adaptada por Alessandro Marson e Thereza Fonseca, a novela Elas por Elas foi originalmente produzida em 1983. “O Cassiano (Gabus Mendes, autor da primeira versão) conseguiu construir uma novela de importância incrível nos anos 1980. A novela das 19h dos anos 1980 seria a novela das 20h dos anos 2020”, avalia.
Na opinião de Caruso, a história é relevante. “A dramaturgia dos anos 80 coube como uma luva nos dias de hoje. O autor traz aspectos pertinentes aos dias de hoje, esse protagonismo de mulheres. Não há tramas paralelas. São sete protagonistas. Normalmente, temos tramas paralelas que convergem para a trama principal. Em Elas por Elas, as sete protagonistas convergem entre elas, não há uma principal entre elas.”
VILÃO
O ator diz ainda que interpretar um vilão permite que tenha em mãos um personagem de ação, não contemplativo. “Sérgio é um personagem que desencadeia a ação, sofre a ação e não é o protagonista do todo. Ele é o protagonista da história dele. Cada personagem tem sua história. É um prazer imenso fazer um personagem diferente de tudo aquilo que fiz e com consistência dramatúrgica”, diz.
Ele também elogia seus colegas de trabalho. “Não é difícil construir o Sérgio quando tenho a Bel Teixeira, o Mateus Solano e o Filipe Bragança ao lado. Foi uma novela muito, muito, muito feliz. É extremamente prazeroso realizar este trabalho. Posso trabalhar na chave da comédia e com o drama. O texto nos dá muitos elementos dramáticos e a gente pode trabalhar a comédia com esse elementos.”
50 ANOS DE CARREIRA
Com cinco décadas de profissão, Caruso enaltece a chance de ter realizado mais um trabalho com a diretora Amora Mautner, com que fez uma sequência de trabalhos, como Cordel Encantado (2011), Avenida Brasil (2012), Joia Rara (2013) e A Regra do Jogo (2015).
“Trabalhar com a Amora é como a música da Rita Lee: ‘Amor é bossa nova, sexo é Carnaval’. É assim: estamos na bossa nova e, de repente, é Carnaval. Amor e sexo no mesmo tempo e espaço (risos)”, diverte-se. “Aos 72 anos de idade, eu me sinto voltando a brincar de teatro na garagem com a roupa do avô e da avó.”